Não é preciso ser engenheiro da NASA para colocar sua vida financeira no automático e, certamente, é a melhor maneira para preocupar-se menos e poupar mais tempo e dinheiro.
Não é complexo o processo, mas é necessária uma boa dose de motivação e de organização, apesar de vários “prazeres” da vida nos desviarem do caminho. Afinal, não é muito divertido anotar tudo e ter que ficar monitorando calendário para não perder oportunidades.
Nesses vários anos lidando com as minhas finanças e ajudando pessoas do meu círculo social, aprendi que o mais importante para o sucesso financeiro é planejamento financeiro, fugir de dívidas “ruins” e fazer boas escolhas de investimento. Esses três pilares formam um sistema que, se automatizado, nos guia pelos caminhos tortuosos da vida financeira.
"A persistência é o caminho do êxito"
Charles Chaplin Tweet
1. EMOÇÕES E CONVICÇÕES
Que somos seres sociais e, antes de tudo, emocionais não é novidade para ninguém. O que não nos damos conta é que, no mundo dos investimentos, agir com emoção é péssimo para nossa saúde financeira. A tendência humana de deixar as emoções influenciarem na tomada de decisão é algo que deturpa o raciocínio e obscurece a visão.
Emoções pode nos levar a consumir coisas que não precisamos — dá uma olhada nos seus sapatos ou roupas que comprou e até hoje não sabe o porquê! E aquele carro que está muito além do orçamento doméstico e se depreciando — na garagem — a uma taxa de 20% ao ano, mas era um sonho. Justificativas como “eu mereço”, “não sei se morro amanhã e não desfrutarei do bom da vida”. A danada da emoção também nos sabota com fantasias como “não invisto por que é complicado demais” ou “investir é para ricos, mal tenho para viver” etc. Poderíamos enumerar outros tantos gatilhos mentais, mas acho que já entendeu aonde vamos chegar.
Uma defesa contra nós mesmos é colocar o dinheiro no piloto automático e nos proteger de coisas estúpidas que fazemos. Sim, todos nós fazemos! O tempo todo. A automatização pode ser eficiente para combater as tentações e a preguiça.
2. A TENTAÇÃO NOSSA DE CADA DIA
Imagine a cena: você tem um trabalho para fazer e está consciente que é importante para sua carreira. Em tempos de Home Office, o “maldito” WhatsApp não dá descanso e as mensagens, a maioria inúteis, não param de chegar. Você dá uma olhadinha e parece que o grupo está animado em alguma discussão que não agrega absolutamente nada no trabalho que está fazendo. Mas, você não se aguenta e responde ou provoca alguém do grupo e a conversa vai se desenrolando. Ao final de 1h37min, se dá conta que o trabalho continua lá para ser finalizado, o tempo voou e você não fez o que era realmente importante, o trabalho.
Bem-vindos ao mundo de tentações modernas. Você acaba de ver apenas um exemplo do nosso dia a dia moderno que consome energia e não produz nada. À medida que nos conectamos, fica mais difícil não cair em tentação e manter o foco nas coisas importantes.
Especialistas em comportamento humano mostram que é possível fortalecer o “músculo” da força de vontade com repetições e atenção naquilo que nos tira o foco das coisas importantes. No início, devemos nos forçar por algum tempo a fazer algo que queremos, mas não fazemos. Também, mudar o ambiente para ajudar a combater as distrações. Por exemplo, para conquistar o hábito de ler, leia um assunto que lhe seja agradável pelo menos 20 minutos por dia. Se o celular tira sua atenção, desligue-o enquanto estiver praticando a leitura. Se ler deitado lhe dá sono, leia sentado. Em pouco tempo, você se tornará um leitor muito mais eficiente. Faça o teste!
Na vida financeira, atenção e foco também são fundamentais para domar as tentações. Não há necessidade de cortar cartões, isso não resolve. Um bom exercício é listar nossas receitas e despesas. É interessante como o fato de ver escrito os gastos com futilidades mexe como o nosso emocional. Faça uma lista detalhada e veja, por exemplo, aquela assinatura da Amazon Prime de R$9,90 que você nunca vê e que no final de 12 meses foram gastos R$118,80 sem nenhuma utilidade.
3. FALTA DE TEMPO OU SÓ PREGUIÇA MESMO?
O exemplo da assinatura de Amazon Prime é didático para percebermos o quanto a automatização é lucrativa. Para quem automatiza, é claro. Esses serviços são renovados automaticamente. Caso queiramos deixar de utilizá-los, devemos acessar um site, um App ou fazer uma ligação para pedir a interrupção do serviço. Por que demoramos tanto para interromper um gasto absolutamente desnecessário? A resposta é a preguiça!
Os provedores desses serviços sabem que a nossa preguiça é uma grande aliada para o lucro deles. Não é só aí que nossas finanças saem machucadas, há várias outras situações em que nossa acomodação proporciona despesas extras no orçamento. O pagamento de contas atrasadas é, na maioria das vezes, fruto da nossa preguiça de não colocar um simples alerta no celular avisando a data do vencimento. Da mesma forma, o seu futuro financeiro vai sendo comprometido cada vez que “esquece” de fazer os aportes regulares para que o juro composto faça o trabalho de lhe garantir uma aposentadoria confortável.
4. A AUTOMAÇÃO A SEU FAVOR
Se as empresas sabem que a automação é boa para elas, então por que não seria para mim? É um questionamento razoável. Afinal, o que é a vida senão uma sequência de hábitos diários. Ninguém, pelo menos na nossa cultura, acorda e precisa ser lembrado que deve escovar os dentes. É o nosso piloto automático funcionando a pleno vapor.
Qualquer pessoa que tenha mudado um hábito, como correr pela manhã, dirá que se não se incomoda em sair da cama, colocar roupa e calçado e sair para uma corridinha. Já está automatizado. É tão natural como o ato de escovar os dentes. O cérebro já assumiu o controle e colocou no piloto automático. Esse autocontrole é benéfico em várias áreas da vida, inclusive finanças.
Em tempos de tecnologia e dinheiro eletrônico, a automação nos processos que envolvem transações financeiras são facilitados. Manter o processo simples é a chave do sucesso. Agendar pagamentos na sua conta corrente e transferências de dinheiro para sua poupança pode lhe ajudar a não ser traído pela memória — ou autossabotagem.
Separar a instituição financeira na qual você terá seus investimentos é uma boa opção para aquelas pessoas que ainda não têm o hábito de se pagarem primeiro. Um simples agendamento recorrente na sua conta, um dia depois do recebimento do salário ou renda qualquer, garantirá que seus aportes não sejam “esquecidos”. Há instituições financeiras nas quais é possível automatizar a aplicação em fundos ou em poupança de forma recorrente. Desta forma, não se corre o risco de gastar antes de poupar.
Agora que já se pagou, hora de colocar as contas no automático também. Todos os bancos possuem serviços de débito em conta. Atenção para a lista citada anteriormente, pois só automatizamos o pagamento de despesas recorrentes e essenciais. As outras, eliminamos. Alguns serviços oferecem desconto para o cliente que mantém o pagamento automatizado. Praticamente tudo pode ser colocado no cartão de crédito atualmente, então pagamentos de serviços diversos, como Netflix, podem ser automatizados também. Se colocarmos a fatura de cartão de crédito para ser paga em débito em conta, automatizamos praticamente tudo. Assim, adeus ao pagamento de taxas e multas em função de atrasos.
5. HORA DA VERDADE
Aceite que somos preguiçosos e alvos fáceis da tentação. Humanos são assim! Fazemos bobagens com dinheiro o tempo todo. Então, tirar o emocional das decisões financeiras recorrentes é uma forma eficiente de nos blindar da autossabotagem. Colocar sua vida financeira no piloto automático é a saída para se livrar da emoção e da preguiça. Faça com que a tecnologia seja aliada na automatização dos processos de investimento e de pagamento de contas. Revise os procedimentos de tempos em tempos, faça correções e melhorias nas etapas. O tempo depura a nossa atitude e nossa ação. Persista e seja feliz!